Ouvir "O Brincar e a Realidade - Capítulo 6: O Uso de um Objeto e a Relação por Meio de Identificações"
Sinopse do Episódio
Hoje nos debruçamos sobre uma ideia que, embora pareça simples, reverbera profundamente em nossa prática clínica: o uso de um objeto.Até aqui, falamos muito da relação com objetos, do vínculo, da projeção, da identificação. Mas a noção de uso, esse verbo tão direto, ainda não foi suficientemente explorada. E é justamente o que Winnicott nos propõe nesse capítulo, baseado em sua longa experiência clínica.Ele reconhece que só nos últimos anos de sua prática se sentiu capaz de esperar pela transferência emergir com naturalidade, sem precipitar interpretações que, muitas vezes, interrompem o processo criativo do paciente. Porque, quando conseguimos esperar, o paciente chega às suas próprias compreensões criativamente, e com alegria.O ponto central aqui é: não basta se relacionar com um objeto. É preciso poder usá-lo. E para isso, o paciente precisa nos colocar fora da área dos fenômenos subjetivos, ou seja, nos perceber como algo externo, real, separado de sua fantasia.A relação de objeto pode ser descrita em termos do sujeito. Mas o uso do objeto exige uma realidade compartilhada. O objeto precisa ser reconhecido como algo que existe por si, não como projeção, nem como extensão do self.E o que acontece entre uma coisa e outra?A transição entre relação e uso não é automática. Ela passa por um momento absolutamente crucial e delicado: o sujeito destrói o objeto. Não no mundo real, mas na fantasia inconsciente. E se o objeto sobrevive a essa destruição, ele se torna utilizável.O paciente pode, então, dizer:“Eu te destruí. E você está aqui. Agora posso te amar. Agora posso te usar.”Esse processo marca a construção da realidade externa. A destruição do objeto não é sinal de patologia, mas condição para que ele se torne real, pois só o que é real pode ser destruído, e só o que sobrevive pode ser usado.Na clínica, isso significa resistir ao impulso de retaliar ou interpretar precipitadamente os ataques do paciente. É preciso sobreviver a eles, silenciosamente. Como uma mãe suficientemente boa que, ao invés de moralizar a mordida do bebê no seio, entende esse gesto como parte do desenvolvimento emocional.Assim, o analista, enquanto objeto real, se torna parte da realidade do paciente, e não apenas uma figura projetiva. Muitos pacientes chegam já com essa capacidade constituída. Mas outros precisam que o analista sobreviva aos seus ataques para, enfim, poder usá-lo.A sequência proposta é:O sujeito se relaciona com o objeto.O objeto é encontrado, em vez de criado.O sujeito o destrói.O objeto sobrevive.O sujeito pode usá-lo.É nesse pano de fundo de destruição inconsciente que nasce a possibilidade de amor verdadeiro: amor por um objeto real, que não se confunde com a onipotência do self.Usar, nesse contexto, não é explorar. É nutrir-se de algo que vem de fora, que é outro e que, por isso mesmo, transforma.Este audiobook é um apoio ao estudo da obra, mas não substitui, de forma alguma, a leitura do livro impresso.Livro publicado pela Ubu Editora, com tradução de Breno Longhi e revisão técnica de Leopoldo Fulgêncio.Leitura: Alexandre Spinelli FerreiraAgosto de 2025—Para adquirir o livro impresso: https://amzn.to/4msGIB3Para adquirir o eBook: https://amzn.to/3GYFj6h—
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