1ª Bem-Aventurança - Introdução

13/07/2025 6 min

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Sinopse do Episódio

1ª. PRIMEIRA BEM-AVENTURANÇA: “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos céus.” Ninguém começaria um discurso pragmático declarando ditosos (bem-aventurados) os pobres; para qualquer empresa, a abundância de bens materiais é uma grande vantagem. Se trata de conseguir adeptos, a exaltação da pobreza irá afugentá-los. Qualquer um pode compreender que Jesus Cristo, com este início, não deveria ir muito longe. Esta forma de começar situa a cada um de nós numa mentalidade e numa dinâmica oposta à do mundo. Surge, desde logo, a enorme originalidade do Reino que Cristo quer instaurar, tão contrário ao pensamento dos homens e mulheres, aos seus objetivos e aos seus planos.

Que reformador mais estranho era aquele profeta galileu! À Sua volta reunia-se um público, composto sobretudo por gente humilde, que esperava que os tempos messiânicos fossem finalmente melhorar as duras condições da sua existência e, em lugar de prometer a felicidade, como era hábito dos tribunos e dos oradores políticos de destaque, Jesus, sem nenhuma precaução oratória e como se expressasse uma verdade elementar, começou a ponderar perante os pobres os benefícios da pobreza. Passados mais de dois mil anos, o mundo continua a surpreender-se igualmente com o enunciado desta primeira Bem-aventurança. Quando o Evangelho ordena o amor e a preocupação com o pobre, todos os espíritos se inclinam: é que aqui se aconselha o amor à pobreza. Então o sentido humano, o bom sentido fica perturbado.

Será que não convém, pelo contrário, abolir a pobreza ou, pelo menos, diminuir o número de pobres? Os incrédulos olham a gente no fundo dos olhos. “Não – dizem eles – vocês estão brincando. Bem-aventurados os pobres! Pensais no que dizeis?” E outros ainda acrescentam, com menos cortesia: “Levaremos isso em conta quando os cristãos desvalorizarem o dinheiro”. Se, porém, todos soubessem o mal-estar que essa frase causa aos melhores de entre nós! Porque, inclusivamente, quando julgamos não estar apegados ao dinheiro, o dinheiro continua a subjugar-nos mais ou menos. E como nós estamos certos de que o Evangelho diz a verdade, jamais conseguiremos estar completamente tranquilos. No entanto, na interpretação desta Bem-aventurança, temos de contornar uma dupla dificuldade: a primeira seria acentuar de tal modo o seu rigor que se torne impraticável para a maioria das pessoas, todas elas chamadas, de todas as classes sociais, a ser discípulos e discípulas de Cristo. A outra dificuldade seria diminuí-la e adoçá-la ao ponto de que não se tornasse em mais do que uma virtude de fachada, hipócrita e ineficaz. Muitos cristãos fazem a seguinte pergunta: Até onde nos vincula esta exortação de Jesus à pobreza? Para compreender bem a doutrina das Bem-aventuranças, temos de retirar de uma vez por todas do nosso vocabulário a expressão “até onde?”. Não nos movemos no campo da legalidade. O Reino de Deus é o reino da liberdade. Jesus deu a todos nós um único mandamento: Amarás. Pois bem, o amor dá-se espontaneamente, não se obtém por ordem ou imposição e ignora limites, mesmo quando implica diferentes graus. Ama-se mais ou menos, mas ninguém está dispensado de amar e podemos sempre amar mais. As Bem-aventuranças não conhecem outras regras e sem esta chave de entendimento, seriam incompreensíveis. Não obstante, convém saber e lembrar que são aos pobres aos quais Jesus abre as portas do Seu Reino em primeiro lugar.
CRÉDITOS
Texto: https://ens.pt/protected/wp-content/uploads/2018/05/tema-de-estudo-2004-as-bem-aventurancas.pdf
Imagem: https://schoenstatt.org.br/2023/01/30/como-age-um-pobre-em-espirito/
Trilha sonora: acervo pessoal