Ouvir "Telma Tvon: “A minha avó já era coach de desenvolvimento pessoal. Essa história de ‘tu é suficiente, magnífica, fantástica’ ela dizia-me a mim, aos meus primos e à minha irmã”"
Sinopse do Episódio
Desligada das redes sociais, por lhe darem mais dores de cabeça do que alegrias,Telma Tvon anda sempre acompanhada de pelo menos um par de livros. "Jogos da prisão", que estava a ler à data desta conversa com Georgina Angélica e Paula Cardoso, revirou-lhe intensamente as emoções, talvez por encontrar na escrita de Nana Kwame Adjei-Brenyah mais um retrato inquietante da realidade. É a ela – à vida nossa de todos os dias – que a convidada deste episódio d’ O Tal Podcast vai buscar inspiração para criar. Seja no rap, onde se destacou como integrante das Backwordz, seja na literatura, onde se estreou com “Um preto muito português”. A obra, publicada em 2017, foi reeditada no ano passado pela Quetzal, selo editorial com que se prepara para lançar um novo título, no qual as mulheres são sujeito e ação. É para elas que a escritora e rapper deixa uma mensagem, já no final desta conversa. “Gostaria de lançar um desafio para quem nos está a ouvir, sendo mulheres africanas, ou descendentes de mulheres africanas, para nos juntarmos, e consumirmos mais coisas que as mulheres africanas estão a produzir”. Mais do que um encontro, Telma propõe um movimento de rutura com velhos condicionamentos. “Sentia-me deslocada no universo feminino. Cresci com muitos primos, e tinha a ideia errada de que as mulheres não gostavam de mim. Acho que a sociedade nos incute isso”. Há muito distanciada de imposições e distorções de género, a angolana conta como o rap foi passaporte para se encontrar, numa viagem por rimas que se iniciou na infância, em Luanda, e levantou voo na adolescência, vivida nas periferias de Lisboa, entre turbulências de adaptação. “Saí de Angola por causa da guerra. Mas vim um bocado contrariada. Eu estava feliz lá, com os meus 12, 13 anos, com amigos, a crescer e a aprender tantas coisas”. Já em Portugal, Telma confrontou-se com novos espelhos. “Vens, e de repente tens que conhecer todo um outro universo. Pessoas que nem sempre estão recetivas porque és diferente, porque és essa pessoa preta, estranha, que vieste para o país deles”. As provações da mudança tiveram na escola um dos palcos principais, de onde a escritora extrai muitos episódios de discriminação. “Sempre fui muito boa aluna. Fiz um teste de português e fui a melhor, mas a professora achou que tinha copiado. Disse: como é que uma aluna que veio da Angola pode ter a melhor nota?”. Nessa, como noutras situações, Telma encontrou na avó o porto de abrigo. “Às vezes chegava a casa a chorar, outras, cheia de raiva, e a minha avó era a pessoa que me punha no centro. Dizia: não vais ser igual a eles. Eles não foram educados como tu foste”. Enraizada na segurança encontrada no reduto familiar, a convidada de Georgina Angélica e Paula Cardoso revela que “quando sentia que estava a desmoronar”, porque duvidavam das suas capacidades, lembrava-se sempre da avó. Ela “já era coach de desenvolvimento pessoal”, brinca a a angolana que, nesta conversa, percorre também memórias de Luanda, e partilha o seu olhar sobre o atual momento da sociedade portuguesa. “Houve uma altura que os professores se coibiam de dizer certas coisas aos alunos. Agora tens miúdos de 14, 15 anos a quererem desistir da escola porque o professor disse: porque é que queres ir para a Química? A tua mãe é empregada doméstica”. Ouça o episódio completo aqui. See omnystudio.com/listener for privacy information.
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