Ouvir "Miguel Cardoso: “Se pusermos de lado o compromisso com o antirracismo, o que antes eram fantasmas e agora são pessoas, vai ganhar mais força”"
Sinopse do Episódio
De um lado estavam os que torciam pelo Benfica e, por isso, queriam batizá-lo de Eusébio, figura ímpar na história dos encarnados e do futebol nacional. Do outro, aqueles que preferiam o Sporting, e insistiam em chamar-lhe Jordão, à letra de um ilustre leonino, também celebrizado na seleção das quinas. Quando este empate entre rivais de Lisboa parecia impossível de desfazer, o Brasil entrou em campo e resolveu. “Alguém sugeriu: ele tem o cabelinho parecido com o Pelé. Fica Pelé”. Nascia assim, entre jogadas de futebol de rua, a alcunha que acompanha a identidade de Miguel Cardoso desde os 10 anos. Hoje com 39, é fora das quatro linhas, numa frente de intervenção antirracista, que o convidado desta semana d’ O Tal Podcast deixa a sua assinatura. Diretor executivo da Black Europeans, iniciativa que no passado mês de setembro esteve sob ataque, na mira de uma campanha de desinformação, Miguel explica, nesta conversa, a importância do combate ao racismo. “Se pusermos de lado o compromisso com o antirracismo, o que antes eram fantasmas e agora são pessoas, vai ganhar mais força”, avisa, determinado em salvaguardar o futuro das próximas gerações. “A única forma de toda a gente ter uma vida melhor é cada um de nós dar um contributo significativo a esta luta antirracista”. O compromisso, sublinha Pelé, reforça-se a partir da paternidade: “Encontro esperança no meu filho. Olho para ele e vejo a força de querer continuar e construir uma sociedade melhor”. A inspiração para a mudança ativa-se não apenas a partir dos cuidados parentais, mas também de um cúmulo de microagressões. “Quando nasces num país, vais engolindo a história, a cultura, e foi nesse sentido que aprendi a amar Portugal. Mas o país demonstra que não gosta de mim, seja através de pessoas individuais, seja através de entidades públicas”. Um dos exemplos desse amor não correspondido está bem presente nas memórias de Miguel, que, nesta conversa com Georgina Angélica e Paula Cardoso, recorda como foi arredado da possibilidade de arrendar um apartamento. “Falei ao telefone com o proprietário da casa, ele não percebeu a minha cor. Quando apareci, basicamente tinha uma pessoa a dizer: não lhe vou arrendar por causa da sua cor de pele”. A experiência está longe de ser um caso isolado, nota Pelé, que explica como encontrou no choro um meio de libertação. “Percebi que tinha que chorar, porque não podia descarregar esta raiva sobre ninguém, não podia pegar na minha vivência e culpabilizar alguém. A sociedade foi estruturada desta forma, e tenho de aprender a lidar com o racismo”. Apesar dos sucessivos embates raciais, o gestor imobiliário garante que não guarda ressentimentos. “Não tenho nenhum rancor, nem ódio em relação ao país, mas eu não amo Portugal”, conta, insistindo na importância da reciprocidade. “Vibrava com a seleção nacional. Até dizia: sei o hino de Portugal, mas não o de Cabo Verde. Mas aprendi que esse amor não era recíproco” Noutras lições de vida, o convidado de Georgina Angélica e Paula Cardoso destaca os ensinamentos da ausência paterna. “Culpava a minha mãe por não ter um pai presente. Depois percebi, que ele não quis estar na minha vida. E comecei a questionar-me: porquê que não quis saber de mim?”. Ouça aqui este episódio d’ O Tal Podcast.See omnystudio.com/listener for privacy information.
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