Sobre a Psicogênese de um Caso de Homossexualidade Feminina (1920) - II

23/07/2025 11 min

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Sinopse do Episódio

Dando sequência à leitura do artigo Sobre a psicogênese de um caso de homossexualidade feminina (1920), Freud nos conduz, nesta segunda parte, à trajetória libidinal da jovem analisada, reconstruindo os caminhos psíquicos que a levaram de um desejo materno intenso a uma escolha amorosa que desafiava as convenções de sua época e os nervos de seus pais.A análise revela um enredo denso de afetos, rivalidades e reorganizações do desejo. O nascimento de um irmão mais novo, quando a paciente tinha 16 anos, marca um ponto de inflexão: ela queria um filho, queria o pai como parceiro simbólico, mas viu a mãe, sua rival inconsciente, dar à luz esse filho em seu lugar. A frustração se transforma em revolta, e o desejo toma outra direção. Como escreve Freud:“Revoltada e amargurada, voltou as costas ao pai, aos homens em geral. Após esse primeiro grande malogro, ela rejeitou sua feminilidade e pôs-se a buscar uma outra colocação para sua libido.”Em vez de desejar ser amada por um homem, ela se torna o homem — no plano psíquico — e escolhe, como objeto de amor, uma figura feminina que reunia traços da mãe e do irmão: “bela, austera, rude e idealizada”. A escolha amorosa é, assim, ao mesmo tempo um gesto de compensação, vingança e reorganização simbólica.Freud reconhece que a análise não avançou profundamente, mas ainda assim delineia hipóteses complexas, sem reduzir o tema a uma moralização. Há, novamente, o cuidado em não tratar a homossexualidade como um desvio ético, mas como uma forma legítima de configuração psíquica. Ao analisar a dinâmica familiar, ele escreve:“Ela converteu-se em homem e tomou a mãe — em vez do pai — como objeto de amor. [...] Tornando-se homossexual, deixando para a mãe os homens, pondo-se de lado por assim dizer, a garota tirava do caminho algo que até então fora parcialmente responsável pelo desfavor da mãe.”Esse episódio também aprofunda conceitos fundamentais da teoria freudiana, como o Complexo de Édipo, a bissexualidade originária, o recalque, a identificação, a formação dos sintomas e a importância das frustrações precoces. Freud mostra como o inconsciente encontra vias inesperadas para expressar afetos interditos e reviver conflitos mal resolvidos da infância.Nesta segunda parte, a escuta de Freud segue firme e surpreendentemente lúcida, mesmo diante das limitações de sua época. A leitura é baseada na edição da Companhia das Letras, com tradução de Paulo César de Sousa.Se você ainda não ouviu a Parte 1, ela está no feed. E se quiser acompanhar as próximas, não esqueça de seguir o podcast.Aproveite para conhecer também meu outro projeto, Suficientemente Winnicott, com leituras e reflexões a partir da obra de Donald Winnicott. Os links estão na descrição.📚 Para adquirir o livro onde este artigo se encontra: ⁠https://amzn.to/3GRsxpZ⁠📱 Para adquirir o eBook: ⁠https://amzn.to/4oaHswv⁠Compartilhe este episódio com quem se interessa por psicanálise, sexualidade, relações familiares e pela complexidade do desejo humano. Freud pode ter escrito em 1920, mas o que ele provoca ainda reverbera com força em 2025.