Muito cuidado com o consignado privado!

23/08/2025
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Sinopse do Episódio

O governo começou a transferir os créditos consignados para a plataforma do Crédito do Trabalhador. São mais de 4 milhões de contratos antigos que estão sendo migrados, com o objetivo de facilitar tanto a contratação de novos empréstimos consignados quanto a renegociação dos já existentes. O acesso cada vez mais fácil traz vantagens, mas também preocupações. Entenda melhor.

A mudança teve início em março, quando foi proposta uma inovação nesse tipo de crédito. Antes, no setor privado, o consignado ocorria geralmente por meio de acordos entre bancos e médias ou grandes empresas, que ofereciam essa linha de crédito aos seus funcionários. Isso mudou a partir de março, quando o governo passou a incluir a modalidade na CTPS digital, em parceria com cerca de 80 instituições financeiras. Com isso, os trabalhadores podem visualizar na carteira digital as opções de crédito consignado, comparar as alternativas e, a partir daí, contratar o empréstimo no canal digital ou na própria agência bancária da instituição financeira.

Em seguida, veio a possibilidade de portabilidade do crédito consignado entre instituições financeiras. O trabalhador passou a poder consultar condições e negociar para que um banco comprasse sua dívida mais cara, em troca de uma com custo menor. A própria instituição de origem também pode renegociar. A novidade é que até novembro, essa portabilidade será gradualmente incorporada à plataforma da CTPS, permitindo que todo o processo seja feito no ambiente digital, com login pelo eSocial. Isso deve facilitar a visualização das oportunidades e a migração de dívidas de uma instituição para outra.

A expectativa é que aumente o volume de crédito consignado contratado pelos trabalhadores e reduza as taxas de juros. Atualmente, já há cerca de R$ 27 bilhões contratados por 3,8 milhões de trabalhadores. Porém, a taxa média de juros está em 3,79% ao mês, mais que o dobro das médias pagas por aposentados (1,83%) e servidores públicos (1,84%). Essa diferença ocorre porque, no caso do trabalhador do setor privado, há menos garantias. As instituições contam apenas com até 10% do saldo do FGTS e com 100% da multa rescisória em caso de demissão sem justa causa (o equivalente a 40% do saldo do FGTS). Além disso, a regulamentação ainda não foi definida pelo governo, o que pode trazer insegurança jurídica.

Outro ponto de atenção é o limite de comprometimento da renda. O crédito consignado pode chegar a até 35% do salário do trabalhador. Isso levanta preocupações do ponto de vista da educação financeira. Uma pesquisa recente mostrou que 50% dos que tomaram esse tipo de crédito vêm conseguindo honrar seus compromissos, mas os outros 50% afirmaram terem dificuldades ou não conseguiram pagar. Se já é desafiador fechar as contas com 100% da renda disponível, comprometer 35% dela aumenta ainda mais o risco de endividamento.

Além disso, os trabalhadores do setor privado permanecem, em média, apenas dois anos empregados. Isso significa que, em caso de demissão, o saldo do FGTS será usado para quitar parte da dívida, mas, caso não seja suficiente, o trabalhador permanecerá endividado até conseguir um novo emprego. Por isso, é importante ter cuidado ao contratar esse tipo de crédito, para evitar maiores complicações no futuro.

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