"Os versos utilitários de Bentham, o cofre do decorar ou a arte de guardar"

20/06/2020 4 min
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Sinopse do Episódio

[Episódio 9 — 20 de junho de 2020]
Sumário:
(1) Bentham, filósofo utilitarista, para quem a felicidade é alcançada e consiste no prazer, propõe uma tese polémica: «"Se a quantidade de prazer for a mesma" escreveu "o jogo dos alfinetes tem tanto valor como a poesia"». Esta heresia poética considera que os prazeres valem todos o mesmo, independentemente da atividade que os motiva.
(2) Se colecionarmos prazeres, sentimentos, experiências onde e como os guardamos? Em busca de resposta, seguem-se uns versos do heterónimo de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos: «Trago dentro do meu coração / Como num cofre que se não pode fechar de cheio / Todos os lugares onde estive [...] Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...». "Decoramos", colocando junto do coração, todavia este pode ter os seus limites: «meu coração não é maior que o mundo. / É muito menor. / Nele não cabem nem as minhas dores. / [...] preciso de todos. / [...] difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso / num só peito de homem... sem que ele estale.». O coração também tem seus pesos, lembrámos de cor outros versos de Drummond: «Do lado esquerdo carrego meus mortos. / Por isso caminho um pouco de banda».
(3) Apresentamos uma breve arte de bem guardar, de António Cícero: «Em cofre não / se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. [...] Guardar uma coisa é vigiá-la / [...] estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.»

[Breves Referências:]
BENTHAM, Introduction to the Principles of Morals and Legislation, 4. 2, cf.: Nova História da Filosofia Ocidental, vol. 4. pp. 242-243; FERNANDO PESSOA, Álvaro de Campos «Passagem das horas»; DRUMMOND DE ANDRADE, «Mundo Grande»; «Fazendeiro do Ar»; ANTÓNIO CÍCERO, «Guardar».