XXVII Domingo do Tempo Comum - Homilia

05/10/2025 9 min

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Sinopse do Episódio

“Senhor, aumenta a nossa fé”: dom, tarefa e caminhoNo Evangelho, os Apóstolos pedem: “Aumenta a nossa fé.” Este pedido é também o nosso. A fé é dom de Deus — ninguém a fabrica —, mas é igualmente tarefa: acolhe-se e cultiva-se. Não basta repetir “Senhor, aumenta a minha fé” e cruzar os braços. Jesus lembra que uma fé pequena “como um grão de mostarda” realiza o inesperado: o pouco, vivido com Deus, transforma mais do que imaginamos.A dificuldade nasce quando olhamos o mundo e vemos injustiças, doença, morte, sofrimentos que não entendemos: “Porquê prosperam os malandros e sofrem os justos?” A primeira leitura, do profeta Habacuc, dá-nos um método espiritual para atravessar este escândalo sem desistir: ver, escrever, esperar.1) Ver. A fé não tapa os olhos. Somos chamados a olhar a realidade tal como é, sem cosméticas piedosas. Mas ver “com olhos de fé” significa aprender a olhar como Deus olha: reconhecer o mal e, ao mesmo tempo, discernir o bem possível, o que Deus deseja fazer nascer naquela situação. É um ver que já contém uma semente de transformação.2) Escrever. Diz o Senhor a Habacuc: “Põe por escrito a visão, grava-a em tábuas com clareza.” Escrever é fixar a memória do que Deus nos faz entender, para não perder a orientação quando o tempo se alonga ou a esperança se turva. Diário espiritual, pequenas notas, uma frase bíblica na carteira: marcas de uma visão que nos recentra.3) Esperar. “Se tardar, espera, porque virá e não tardará.” Esperar não é passividade de quem aguarda o autocarro. É espera ativa: comprometer-se com as causas do Evangelho e fazer o que está ao nosso alcance para que o Reino avance. Como quem cuida de uma planta: rega, poda, aduba… e confia no tempo da maturação. A fé trabalha e espera.Este caminho protege-nos de dois enganos: o espiritualismo resignado (“Deus fará tudo sem mim”) e o ativismo impaciente (“eu faço tudo sem Deus”). A fé cristã é aliança destas duas verdades: dom recebido e responsabilidade assumida.E como se cultiva, na prática, a fé-mostarda? Não apenas com gestos “espampanantes”, mas, sobretudo, com pequenas fidelidades quotidianas: uma palavra justa quando é mais fácil calar, um tempo dado a quem precisa, a oração breve mas fiel, a honestidade no escondido, o perdão que desarma um rancor. O Reino cresce assim: discretamente, eficazmente.No fim, Jesus recorda: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer.” Não se trata de desvalorizar o bem realizado, mas de reconhecer que os frutos excedem sempre a nossa medida. O pouco que oferecemos, Deus multiplica. E é a leitura crente dos acontecimentos — ver, escrever, esperar — que nos permite reconhecer, na nossa história, a mão de Deus.Peçamos, então: “Senhor, aumenta a nossa fé.” E respondamos com a vida: ver com os teus olhos, escrever para lembrar, esperar trabalhando. Assim, o grão de mostarda da nossa fé moverá amoreiras e mares, isto é, mudará corações e realidades — começando pelo nosso.