XIV Domingo do Tempo Comum - Homilia

06/07/2025 8 min

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Sinopse do Episódio

Ao escutarmos a primeira leitura do livro de Isaías — "Farei correr para Jerusalém a paz como um rio, e a riqueza das nações como uma torrente transbordante" — percebemos que, desde o Antigo Testamento, o Senhor nos propõe a vida em Cristo como uma vida de paz.É significativo notar que, nas aparições do Ressuscitado, a saudação de Jesus é sempre: "A paz esteja convosco." E é essa paz que o Senhor envia os seus discípulos a levar: "Quando entrares numa casa, dizei primeiro: paz a esta casa."Se há uma marca distintiva do cristão, é ser homem ou mulher de paz. Mas paz não é apenas ausência de conflito. É uma harmonia interior: connosco, com os outros, com Deus. É essa harmonia que nos permite olhar o mundo com esperança, sem ignorar as dificuldades, mas confiando no que o Senhor nos oferece: a paz.Esta paz não nasce do esforço humano. Naturalmente, tendemos mais ao conflito do que à serenidade. Quando se tenta estabelecer paz só por meios humanos, muitas vezes recorre-se à força para silenciar os conflitos. Mas a paz verdadeira só é possível depois de experimentarmos a salvação. Só quando sabemos que os nossos nomes estão escritos no céu, que pertencemos a Cristo e que Ele é o sentido da nossa existência, é que podemos acolher a paz que a Escritura anuncia.São Paulo diz: “De nada vale ser circuncidado ou não. O que importa é ser nova criatura.” A salvação é um dom, não algo que conquistamos. Recebemo-la quando vivemos segundo a lógica do Reino. E é essa lógica que Jesus propõe ao enviar os 72 discípulos: “Curai os enfermos e dizei-lhes: está perto de vós o Reino de Deus.”A paz constrói-se pelo cuidado e pelo anúncio do Reino. Cuidar não é apenas dar comida, higiene ou medicação. É mais profundo: é ser presença que desperta sentido e esperança. É mostrar ao outro que não está sozinho, que há um horizonte para além da dor.Sabemos, por experiência, que mesmo em situações difíceis, podemos viver com esperança. Essa esperança não elimina as noites da vida, mas ilumina-as. Dá-nos força para caminhar e serenidade para enfrentar os dias, porque nos sabemos em comunhão com Jesus.Por isso, ser anunciador de Cristo começa por deixar-se transformar pela esperança. Quando Jesus diz “Pedi ao Senhor da messe que envie trabalhadores”, refere-se também a todos os batizados. Todos somos enviados como construtores do Reino, portadores de esperança.Não somos medidos pelo que fazemos ou pelo sucesso que alcançamos, mas por estarmos ou não mais próximos de Jesus. Santa Isabel de Portugal, cuja memória celebrámos, é exemplo disso. Atribui-se-lhe uma frase inspiradora: “Ao cuidar dos outros, cuidou das suas próprias feridas.” Viveu dificuldades familiares e pessoais, mas foi construtora de paz e esperança, cuidando dos pobres e sofrendo com eles.Também nós experimentamos que, ao cuidar do outro, muitas vezes estamos a curar algo em nós mesmos. Por isso, vale a pena parar um pouco, em silêncio, e perguntar: que feridas carrego? Como é que o Senhor é bálsamo para elas?Como é que, na nossa vida concreta, com os nossos limites e imperfeições, o Senhor nos devolve a paz, a esperança e a alegria de viver?