O dia em que eu palestrei num presídio - Episódio 292 – Fabio Flores

18/07/2019 7 min

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Sinopse do Episódio

Olá. Eu sou o Professor Fabio Flores e este é o quadro Precisava Ouvir Isso.
Hoje eu venho aqui te contar as lições e as emoções que eu senti dando minha primeira palestra em um presídio.
Cara... que experiência intensa. Intensa mesmo...
Pra começar lá não era exatamente um presídio. É uma unidade de atendimento sócio-educativo. Pra lá vão os menores em conflito com a lei. Ao invés de ficarem em uma cela ociosa, eles fazem freqüentam uma escola interna, fazem atividades esportivas e culturais... e eventualmente recebem uma visita externa de um palestrante. Ontem foi o meu dia. Assim que recebi o convite aceitei de bate-pronto e fui lá partilhar de meus conhecimentos de Inteligência Emocional pra este público tão especial.
A primeira coisa que me impressionou foi o número de agentes dentro do auditório. Eram muitos mesmos... espalhados por todo auditório e alguns sentados nas cadeiras. Foi um ponto de tensão inicial... me impressionou bastante. A segunda coisa que me impressionou foi o olhar dos internos. Eram olhares fulminantes. Olhares avaliativos e desconfiados. O terceiro ponto foi o tempo que demorei para quebrar o gelo. De maneira geral eu uso em minhas palestras técnicas de humor que quebram o gelo da platéia em menos de 1 minuto. Ali demorou um pouco mais... foram quase 5 minutos de desconfiança da platéia em relação a minha presença ali.
Depois que eu quebrei o gelo eles começaram a descruzar os braços e a sorrir com o olhar. Eu gosto muito de ler a linguagem corporal da platéia. Neste momento a platéia baixou a guarda e me disse de maneira não-verbal: Parece que este cara é legal, vamos dar uma moral pra ver se vale a pena.
Na platéia tinham meninos e meninas de diversas fases da adolescência. Bem na primeira fila tinha uma menina de uns 15 anos com uma filha recém nascida. Na fila intermediária alguns meninos muito novos, algo em torno de 12 anos. Os mais velhos, talvez por mais tempo de internação, demonstravam excelente relação com os professores e agentes de segurança.
Minha palestra começa pelo humor. Uso o riso como isca pra atrair a atenção pra parte mais emocional. Pro momento em que a tomada de consciência provoca a mudança de atitude. Pros momentos em que eles são convidados a revisitar a própria história e fazer as pazes com o passado e construir uma presença no presente com leveza, paz e propósito.
Neste momento mais emocional eu vi alguns olhos brotando lágrimas. Pra dizer a verdade não eram muitos. Mas tiveram olhos lacrimejantes. Também tiveram olhos vagando no vazio. Vi olhos que não voltaram do passado. Que ficaram mais tempo avaliando as lembranças... talvez precisem de mais tempo para liberar o perdão pro passado.
No momento em que eu autografei o livro tive a oportunidade de ter contato individual com eles. Ouvi muita coisa bacana deles. Um menino de uns 14 anos me disse: Eu queria ter tido em minha vida alguém como você pra eu conversar... Uma menina disse que era a primeira vez que ela teve vontade mesmo de ler um livro. E o que mais me emocionou foi um garoto de uns 16 anos que falou... Um dia eu quero ir lá no seu programa contar minha história de superação. E eu mostrei pra ele no livro os meus contatos em redes sociais e prometi... Se você sair daqui na moral e der a volta por cima eu te garanto que você será entrevistado do Bom de Papo.
Ele olhou pra mim e disse olhando nos olhos: Então pode me esperar que eu vou dar entrevista pra vocês.
Esta frase me fez valer o dia. Ver que um daqueles meninos saiu com o verdadeiro propósito de se reinventar.
Eu aprendi neste dia que verdadeiramente existe esperança. Minha esperança já havia começado em cada pessoa que doou livros pros internos. Pude levar 100 exemplares do meu livro “Deixe pra trás o que não te leva pra frente”. Plantamos 100 sementes. Temos 100 razões pra esperançar...

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