Ouvir "Uma flotilha contra a indiferença do mundo"
Sinopse do Episódio
Era muito improvável que Mariana Mortágua e os outros três activistas que a acompanharam na flotilha humanitária em direcção a Gaza estivessem à espera da recepção que muitas centenas de pessoas lhes concederam na chegada a Lisboa. Numa declaração que procura vincar o papel da cidadania na influência do poder político, a líder e deputada do Bloco lembrou que ela e os outros tripulantes fizeram o que os governos democráticos da Europa não fazem. Ou seja, lutar contra a passividade, quando não o conluio, que mostram para com o governo de Israel na sua campanha contra palestinianos em Gaza. Em causa, convém recordar, estão violações das mais elementares regras do Direito humanitário Internacional. A missão de Mariana Mortágua estaria sempre condenada a gerar polémica. O cinismo e a descrença não recomendam a recuperação das grandes acções colectivas de protesto de outras eras mais prósperas da democracia. E havia muita gente que não percebia o sentido de uma viagem de semanas, por nobre que fosse, quando o Bloco tinha de se envolver em outras missões na frente interna. Como a aprovação de uma nova lei de estrangeiros, por exemplo. Ou umas eleições autárquicas. Ou ainda a preparação de um Orçamento do Estado. No P24 dissemos no remate de um episódio que a escolha de Mariana enquadrava-se mais no espírito de uma associação de estudantes do que no que se esperaria de uma líder de um partido nacional. O que é facto é que, apesar de tudo acontecer como previsto, ou seja, com o assalto das tropas israelitas ao barco antes que acostasse com a ajuda a Gaza, o resultado da flotilha ficou bem para lá de todas as expectativas. Mobilizou greves em Itália. Ou manifestações com muitas dezenas de milhar de pessoas em toda a Europa contra a desumanidade do governo de Israel e o sofrimento sem nome dos palestinianos de Gaza. Dois anos depois do selvático ataque terrorista do Hamas contra civis inocentes, que se cumprem hoje, a humanidade e o sentido de justiça continuam a derreter-se nas areias de Gaza. E Acções como a da flotilha, contam. Como escreveu Azeredo Lopes num artigo no PÚBLICO, “tudo aquilo a que se propunham os tais “activistas” foi alcançado com grande êxito, para fúria de bastantes mais “inactivistas” a quem estas coisas parecem enxofrar de modo particular”. Azeredo Lopes é professor de Direito Internacional na Universidade Católica do Porto e é com ele que vamos falar neste episódio.See omnystudio.com/listener for privacy information.