Sinopse do Episódio "Sessões contínuas "
Ser bombonzeiro do cine Ideal tinha suas vantagens. Assistia a tudo quanto era filme. Cestinha de vime pendurada no pescoço, balançava a caixinha de Mentex, para chamar atenção dos fregueses, e ia descarregando as diversas variedades de bombons diligentemente arrumadas nos doze compartimentos. Na verdade, diga-se de passagem, tanto vendia quanto consumia. Sonho de Valsa, a grande novidade da ocasião, era o meu preferido. Tanto que estabelecia sempre uma reserva de mercado, ou melhor, de consumo, no cantinho, dificultando a visibilidade por parte dos fregueses. Na hora de prestar contas, o que sempre acontecia logo após o apagar das luzes e o início do filme, em geral a contabilidade não batia em meu favor. O suposto apurado eu já havia consumido por antecipação. Não raras vezes, ainda ficava devendo uma pontinha para quitar no dia seguinte. Praticava o que os economistas do FMI chamariam, anos depois, de “rolar a dívida”. Não dava muita bola para o proveito financeiro. O ofício era apenas o grande pretexto que me abria as portas para conviver mais tempo com os muitos heróis habitantes da enorme e panorâmica tela do cine Ideal.
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