🎧 NO AR o 99º episódio do podcast Nem Negacionismo, Nem Apocalipse! Nesta semana tivemos uma inspiradora conversa com Paulo Saldiva, médico patologista e coordenador do Núcleo de Saúde Urbana do Laboratório Arq. Futuro de Cidades do Insper em parceria com a Faculdade de Medicina da USP, que há mais de 30 anos pesquisa os efeitos da poluição do ar na saúde das pessoas.

✅ Paulo Saldiva nos presenteou com um episódio especial, um verdadeiro poema em prosa para a cidade, uma ode para São Paulo:“Eu vejo a cidade de São Paulo como um corpo. É uma senhora de quase 470 anos que ficou obesa (cresceu demais), cada bairro é um órgão e as artérias são obstruídas por trombos metálicos. Ela tem uma calvície central: no centro não tem cabelo, apenas na zona norte e na zona sul. Tem diarreia aquosa para os rios. Quando chove faz edema, e quando não chove desidrata, faz febre.
A minha suspeita é de que os neurônios dirigentes têm algum tipo de Alzheimer, porque esquecem o que foi feito de bom nas administrações anteriores ou até mesmo o que prometeram em suas próprias campanhas.
Nós precisamos de continuidade de políticas públicas e ainda vamos gastar por volta de duas décadas para recuperar a cidade, mas a vantagem é que as cidades não vão morrer, elas se reinventam e têm uma energia criativa que vai ser o motor da solução”. 
✅ As cidades foram essenciais para o desenvolvimento da civilização, mas as consequências são sentidas com impactos cada vez maiores. Em grandes cidades, a questão de mobilidade possui relação direta com a saúde e o bem-estar das pessoas, devido principalmente ao tempo gasto com deslocamento e à exposição a gases poluentes. Paulo Saldiva comenta que na cidade de São Paulo a poluição produz nos pulmões os mesmos efeitos do consumo de cerca de dois cigarros por dia, mesmo para os não fumantes.
✅ Paulo Saldiva destaca que 16% dos novos casos de câncer de pulmão ocorrem em não fumantes e a poluição tem um papel importante nesta incidência. A piora na saúde mental e os maiores riscos de obesidade também possuem forte relação com as jornadas de trabalho e a rotina nas grandes cidades. Hoje, o número de mortes mundiais relacionadas à poluição já são maiores do que doenças classicamente associadas a perdas significativas nas populações, como diarreia e malária.
✅ Como uma medida para amenizar o problema, o médico defende um melhor uso e ocupação do solo. Além do investimento em políticas voltadas à transição energética, Paulo Saldiva ressalta a importância de conciliá-las a um investimento em mudanças comportamentais da população, principalmente para diminuir os deslocamentos e incentivar as ofertas de trabalho e lazer em todos os bairros.  

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