Papo Lendário #221 – Deuses Criadores e Deuses Regentes

17/11/2020 59 min Episodio 221
Papo Lendário #221 – Deuses Criadores e Deuses Regentes

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Sinopse do Episódio

Nesse episódio do Papo Lendário, Leonardo Mitocôndria, Nilda Alcarinquë, e Juliano Yamada conversam sobre como são os deuses criadores e como são os deuses que lideram.

Veja quais sãos os deuses responsáveis pelas criações nas mitologias.

Entenda como um deus que lidera seu panteão não precisa ser o mesmo deus que criou o mundo.

Veja alguns dos padrões que temos tanto de deuses que ocupam o posto de líder e os deuses que criam.

-- EQUIPE --

Pauta, edição: Leonardo Mitôcondria
Locução da abertura: Ira Croft
Host: Leonardo Mitôcondria
Participante: Juliano Yamada, Nilda Alcarinquë

-- APOIE o Mitografias --





-- Agradecimentos aos Apoiadores --

Adriano Gomes Carreira
Alan Franco
Alexandre Iombriller Chagas
Aline Aparecida Matias
Ana Lúcia Merege Correia
Anderson Zaniratti
André Victor Dias dos Santos
Antunes Thiago
Bruno Gouvea Santos
Clecius Alexandre Duran
Domenica Mendes
Eder Cardoso Santana
Edmilson Zeferino da Silva
Everson
Everton Gouveia
Gabriele Tschá
Hamilton Lemos de Abreu Torres
Higgor Vioto
Jeankamke
Jonathan Souza de Oliveira
José Eduardo de Oliveira Silva
Leila Pereira Minetto
Lindonil Rodrigues dos Reis
Maira Oliveira Santos
Mariana Lima
Mateus Seenem Tavares
Mayra
Nilda Alcarinquë
Paulo Diovani Goncalves
Patricia Ussyk
Petronio de Tilio Neto
Rafael Resca
Rafa Mello
Talita Kelly Martinez



-- Transcrição realizada por Amanda Barreiro (@manda_barreiro) --

[00:00:00]
[Vinheta de abertura]: Você está ouvindo Papo Lendário, podcast de mitologias do projeto Mitografias. Quer conhecer sobre mitos, lendas, folclore e muito mais? Acesse: mitografias.com.br.
[Trilha sonora]
Leonardo: Muito bem, ouvinte. No episódio de hoje, vamos refletir sobre um conceito comum nas mitologias e, com isso, eu estou aqui com o Yamada…
Juliano Yamada: Olá, vocês.
Leonardo: ... e com a Nilda.
Nilda: Olá, olá.
Leonardo: A ideia desse episódio começou com uma reflexão minha ao notar a quantidade de deuses de diversos panteões que possuem o aspecto de líder, de rei ali do panteão, porém que esses mesmos deuses não foram os criadores do universo, não são o princípio em si. Ainda que sejam os mais adorados, sejam os principais, eles não são os que necessariamente criaram tudo a partir do zero. Eu comecei essa pauta com essa ideia de comparar o que seria um deus criador versus um deus regente, mas é interessante que, pesquisando nesse assunto, a gente vai vende a pluralidade que tem nas mitologias diferentes, nas culturas diferentes e como esse conceito de deus criador e o conceito também de deus líder, deus regente também pode ser bem amplo. Ainda que o objetivo aqui vá ser comparar os deuses criadores com os deuses regentes, a gente tem que ter noção de que são termos genéricos, então fica amplo quando você vai pesquisar mais a fundo, pois isso vai variar de cultura para cultura. Na verdade, a gente até vai mostrar essas variações - isso que é legal, ver essas diferenças. Enquanto que em algumas culturas, algumas mitologias, o criador é quem realmente criou tudo ali em sete dias, por exemplo, em outras a criação vem aos poucos e muitas vezes vem até de diversos deuses, não é um único criador que você pode dizer. E também a gente tem que deixar claro que o que a gente quer dizer com tais termos, porque a gente fala deus criador: a que a gente se refere nisso? Teoricamente, seria uma divindade que deu origem ao universo, deu origem aos elementos da natureza. Porque, se não definir bem, de certa forma, em algumas mitologias praticamente toda divindade é uma divindade criador, porque é comum que tenha: "A divindade pegou não sei o que lá e criou um instrumento, criou uma flauta, criou não sei o que, criou uma árvore" e tudo, então deus criador só por ter criado qualquer coisa tem de monte. Tipo, eu menosprezei os deuses, mas ok, a gente está se referindo a deuses criadores do universo, criadores do mundo. Mas a necessidade de a gente definir isso mostra como esse termo é plural, e a ideia também de deus regente a gente vai estar se referindo àqueles conceitos de ter uma divindade principal. Em monoteísmos, obviamente, vai ser a única divindade que está ali, a principal, mas em politeísmo, que é o que mais se encontra na história da humanidade, são mitologias e culturas politeístas, é comum que tenha-se uma divindade que seja a mais adorada ou então é colocado que ela é a que rege sobre os demais deuses: uma organização, uma hierarquia. Então é isso que a gente vai considerar como deus regente. Seria o deus líder, o deus rei. E também, quando a gente for entrando nas culturas, a gente vai vendo as variações disso.
Nilda: A princípio, parece essa coisa do deus criador, que meio que depois ou não se torna tão importante a ponto de ser cultuado sempre, ou mesmo na mitologia ele se retirar para outro lugar. A gente é criado em um mundo monoteísta, cristão, hebraico; a gente acha isso meio estranho, mas é muito constante isso: o deus que se retira ou o deus que pelo menos não está mais dando pitaco, ele deixa os outros resolverem os problemas do mundo.
Leonardo: Ou os outros que pegam o lugar dele. A gente vai ver outros exemplos, mas foi interessante falar do que a gente está acostumado, porque realmente a gente aqui, ocidental, está acostumado com essa ideia do monoteísmo e do deus hebraico, para ser mais específico. Tanto que até inicialmente eu queria deixar isso do deus hebraico mais para a frente, falar dos outros exemplos, mas é legal partir dele, porque o estilo de divindade hebraica é o que a gente está mais acostumado a ver. Claro, a gente que estuda mitologia já vê outros estilos, normal, mas em geral as pessoas estão acostumadas com essa ideia, de: é um único deus, ele é o que criou tudo, ele é o responsável por tudo, muitas vezes até tudo é ele ao mesmo tempo. É aquela coisa: onipresente, onisciente, onipotente. Ele é o criador e, por ser também o único, é o líder, é o que lidera ali. Por isso que, quando a gente vê essas outras formas que a gente vai mostrar mais para a frente, é diferente. Até muitas vezes eu já vi gente falando: "Mas espera aí, Zeus, como ele é o deus supremo ali se teve coisa dele antes? Espera aí, ele não é o principal deus? Não é o criador?". Não necessariamente, realmente, é diferente. É uma pegada diferente. E a gente está acostumado com esse hebraico, que é tudo.
Nilda: Lendo a fonte principal de todo conhecimento, a Bíblia, você percebe que até certo... pelo menos no Pentateuco, ele é o deus onisciente, é o deus que está vendo tudo, é o deus que criou. Em muitas narrativas, no Livro do Juízo e tudo mais, os juízes e o povo hebreu têm que provar que o seu deus é um deus mais poderoso que o deus do país vizinho ou do povo inimigo, então, por mais que agora esteja consolidado que é o deus único, é o único que existe, não existe nenhum outro, no judaísmo e na religião cristão, e mesmo no islamismo tenha isso, no começo o próprio povo hebreu não pensava isso. Quer dizer, ele era o deus criador de tudo, era o deus mais poderoso de tudo, por isso eles seguiam, mas existiam outros deuses nos locais vizinhos. Demorou para essa coisa do deus único realmente existir. Era o que a gente chama de monolatria - eles adoravam um deus único, mas tem vários trechos na Bíblia que dão a entender que o deus único está provando que é... Israel ganhou uma guerra porque o seu deus é mais poderoso que o outro, essas coisas todas.
Leonardo: É, até essa ideia que a gente colocou do deus único em si é visto no popular atual do ocidente. Como a Nilda falou, se você vai pesquisar na Bíblia, você vê certas passagens ali que mostram que as outras culturas tinham, sim, seus outros deuses. Atualmente, quando você for colocar isso de que outras culturas têm outros deuses, seria no máximo: são falsos deuses, é errado ou é coisa até do demônio. Seria assim, vai colocar: "Isso aí é coisa do demônio". Ou então muitas vezes você pode até pôr: "Não, isso são vertentes da divindade", então deus é um só, mas, para aquela cultura, ele se mostrou de outra forma. São maneiras de se colocar que tudo é um deus só.
Nilda: A interpretação cristã mais recente sobre a existência de crenças em outros deuses é que deus não se revelou plenamente para essas pessoas ou o entendimento dessas pessoas, desse povo, não foi suficiente para pegar toda a mensagem de deus. Quem pegou toda a mensagem de deus foram os cristãos.
Juliano Yamada: Tem um ponto interessante e importante até para lembrar que toda humanidade evolui, e a gente sabe que os povos antigos podiam guerrear entre si, entrar em dominação, mas você sabe que um povo, quando domina o outro, não destrói o povo derrotado por completo - é muito raro, você tem poucos casos disso registrados na história - ou você pode ter uma aliança. Então o que acontece quando você tem dois povos que se embatem e têm religiões diferentes? Se um povo dominou o outro, é claro que povo dominado, a religião dele vai ser suplantada. Então a religião dele acaba se tornando demônios ou maligna, ou algo do gênero. O cristianismo fez isso, mas a gente sabe que os povos antigos fizeram a mesma coisa. Ou você ter a unificação dessas religiões, então o deus menor ou o deus criador vira um deus antigo, que acabou se deixando de lado e sendo substituído por um deus mais novo. Então eles acabam misturando isso. Por que uma religião tem um deus criador e um deus regente? A gente vê isso no registro histórico ou até mesmo a própria evolução: "Cansei de rezar para esse deus, porque ele não me responde. Mas esse outro deus menor está me respondendo agora. Mas eu não quero esquecer o deus antigo".
Leonardo: Deus visualiza, mas não responde, então não vou também mandar mais mensagem.
Juliano Yamada: Exatamente isso.
Leonardo: Vou mandar mensagem para o outro.
Juliano Yamada: E é legal - eu não sei, acho que não está na pauta -, é interessante ver que deus criador e deus regente, a gente vê isso nos livros do Tolkien.