Papo Lendário #211 – Amazonas e Valquírias

26/05/2020 1h 6min Episodio 211
Papo Lendário #211 – Amazonas e Valquírias

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Sinopse do Episódio

Nesse episódio do Papo Lendário, Leonardo Mitocôndria, Juliano Yamada e Nilda Alcarinquë conversam sobre as amazonas.

Conheça quem foram essas guerreiras da mitologia grega.

Ouça sobre outros grupos de guerreiras, como as Icamiabas, Onna-bugeisha, e as guerreiras de Daomé.

Veja a relação das amazonas e valquírias.

- Esse episódio possui transcrição, veja mais abaixo.

-- LINKS --

Video sobre as guerreiras curdas e outras mulheres guerreiras

-- EQUIPE --

Pauta, edição: Leonardo Mitôcondria
Locução da abertura: Ira Croft
Host: Leonardo Mitôcondria
Participante: Juliano Yamada e Nilda Alcarinquë

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-- Agradecimentos aos Apoiadores --

Adriano Gomes Carreira
Alan Franco
Alexandre Iombriller Chagas
Aline Aparecida Matias
Ana Lúcia Merege Correia
André Santos
Antunes Thiago
Bruno Gouvea Santos
Clecius Alexandre Duran
Déborah Santos
Domenica Mendes
Eder Cardoso Santana
Edmilson Zeferino da Silva
Everson
Everton Gouveia
Gabriele Tschá
Jonathan Souza de Oliveira
José Eduardo de Oliveira Silva
Leila Pereira Minetto
Leonardo Rocha da Silva
Leticia Passos Affini
Lindonil Rodrigues dos Reis
Mateus Seenem Tavares
Mayra
Nilda Alcarinquë
Petronio de Tilio Neto
Rafa Mello
Talita Kelly Martinez



-- Transcrição realizada por Amanda Barreiro (@manda_barreiro) --

[00:00:00]
[Vinheta de abertura]: Você está ouvindo Papo Lendário, podcast de mitologias do projeto Mitografias. Quer conhecer sobre mitos, lendas, folclore e muito mais? Acesse: mitografias.com.br.
[Trilha sonora]
Leonardo: Muito bem, ouvintes. E no episódio de hoje vamos falar das amazonas. No caso, então, é algo relacionado à mitologia grega, mas a gente vai um pouco além disso, pois a gente vai passar por outras culturas aí que possuem, tanto de forma histórica quanto de forma mítica, conceitos semelhantes sobre as amazonas. Então vamos usá-las como elemento central, mas dá para conversar sobre outros exemplos. E no episódio de hoje, para falar disso, estou com o Yamada…
Juliano Yamada: Olá.
Leonardo: ... e com a Nilda.
Nilda: Olá, povo.
Leonardo: É um tema que a gente nunca tinha abordado em um episódio específico, mas a gente vai acabar citando elementos de outros episódios. Bom, começando das amazonas, o pessoal conhece muito esse conceito, quem elas são e tudo, porque acaba indo um pouco para a mídia, algo mais pop. Eu acho que a amazona mais famosa de todas é a Mulher Maravilha, então o pessoal acaba conhecendo por ela, mas obviamente é da mitologia grega, então tem narrativas, tem personagens míticos aí e que, claro, são bem diferentes de como é representado na Mulher Maravilha, mas tem também suas semelhanças. Não existe uma Ilha Paraíso, com esse nome, na mitologia. Na mitologia, é um reino de guerreiras e aparece em vários mitos gregos, e aí tem-se a hipótese do nome. O nome das amazonas em si é bem forte; não é por nada que a gente tem um estado com esse nome, porque tem uma certa relação aí, que mais para frente a gente chega nisso. Mas o nome Amazonas, como um grupo de guerreiras, é algo forte, tanto que virou até uma definição.
Nilda: Definição para guerreira.
Leonardo: Isso, para grupos de guerreiras. Tanto que, ouvinte, aqui a gente não vai falar de personagens guerreiras em si, diretamente; a gente vai citar esses grupos de guerreiras, porque guerreira por si só a gente tem inúmeros exemplos históricos e míticos que mais para frente, em outros episódios, a gente pode citar, mas aqui hoje é sobre esses grupos de guerreiras.
Juliano Yamada: Nas competições também. Até hoje em competições olímpicas de hipismo mulheres são amazonas.
Leonardo: O nome até, amazonas, não se tem muita certeza da origem. Tem duas ideias em geral que uma significa o fato de elas cortarem um dos seios para melhorar o manejo do arco e flecha, e a palavra queria dizer isso, sem o seio; e outra é: tem-se a ideia de uma tribo iraniana que chamava ha-mazan, que significaria guerreiros. Mas a primeira hipótese, essa do seio, é uma que você, ouvinte, vai ouvir bastante, só que não se tem nenhuma prova iconográfica, você não vê nenhuma caracterização das amazonas com isso. Então não dá para dizer realmente que é isso. Esse da tribo também não se tem tanta certeza. Então é isso, não é nada certo. Tem essas duas hipóteses.
Juliano Yamada: É bem mais fácil inventar o sutiã do que cortar um dos seios, não é?
Nilda: Sim. E outra coisa: muita coisa a gente tem hoje sobre os gregos que vem de traduções ou interpretações erradas de coisas que se encontrou. Então no século 17, 18, 19, os europeus voltaram a estudar mitologia, encontraram textos, a arqueologia surgiu, começou a se traduzir textos, e muitas dessas coisas foram traduzidas tendo em mente o pensamento do século 18 e 19. Então corre o risco de algumas dessas interpretações serem traduções erradas - não é difícil que seja tradução errada da coisa, porque pode ser apenas assim: "Ah, elas amarravam o seio de uma maneira que o deixasse mais firme para não atrapalhar", e nisso a palavra é confundida com cortar e você traduz como cortar. Tem muito exemplo disso em tradução. Até do inglês para o português você tem coisas erradas; você imagina você pegar um texto grego antigo descrevendo, sei lá, uma peça de roupa feminina da época. Podia ser isso, a gente não sabe dizer exatamente o que aconteceu. E junta isso com uma época que você está estudando, você está revitalizando o estudo dos gregos, que é uma época em que a mulher é tida como frágil, não monta a cavalo, não luta, não atira arco e flecha, aí você tem novos estudos, novas arqueologias, você vai vendo que talvez a coisa não seja bem aquilo, como esse exemplo das representações. Se você não tem nenhuma representação dizendo que está faltando seio, de onde tiraram isso?
Leonardo: É, eu, pessoalmente - opinião minha mesmo sem estar baseada em muitas coisas -, dou mais crédito para esse da tribo, de ter uma tribo que tem algum nome mais parecido. Eu acho mais fácil isso aí do que o do seio. O do seio eu sempre fiquei meio assim; quando eu fui pesquisando, mais ainda. Um principal motivo: por causa disso, por não ter nenhuma representação nem nada, e não é nem representação artística, que veio depois; é citar isso nos mitos, nas narrativas, e não tem nada de coisa iconográfica, vaso, nada assim que mostre as amazonas nunca tem isso aí. Então eu fico meio assim, acho que alguém falou e foi indo nisso. Agora, a questão de ter uma tribo, a gente vai ver aí ao longo do episódio que esse conceito de uma tribo de mulheres guerreiras, de um grupo guerreiro de mulheres, tem um quê histórico - não só histórico como até geopolítico, porque tem coisas até mais recentes -, principalmente ali na região e tudo, era muito mais fácil. O próprio conceito das amazonas vem muito disso: tem o mito, tem a narrativa, mas tem uma forte possibilidade de ter sido baseado em grupos que existiram historicamente. Arqueólogos, de um tempo para cá, encontraram lá na Rússia túmulos de guerreiras citas - estavam enterradas todas com os equipamentos, com várias coisas que você, já tendo a ideia das amazonas, faz uma relação. E são guerreiras citas. E, nas amazonas, quando é dito de onde elas são, a Cítia é um dos lugares dos quais elas poderiam ter vindo. São a Trácia, a Cítia, a Lídia e tem outros nomes, outros locais. Acabam sendo esses aí os que mais se fala. O da Trácia é até interessante para a gente ver como elas são vistas dentro da visão grega daquela época - mais para frente a gente entra nesse assunto, mas, só para localizar o ouvinte, elas são dessas regiões e elas são filhas do deus Ares e da ninfa Harmonia. E aí você vê como a maternidade delas não faz muita diferença, porque essa ninfa... às vezes você encontra a Harmonia sendo uma divindade, que seria a Concórdia, então é a antítese da discórdia, da Éris, e aí, no caso, a Harmonia seria filha de Ares. Então é meio diferente dessa ninfa. Então não tem muita importância quem é realmente a mãe delas, o mais importante é elas serem filhas de Ares, porque são guerreiras, então são filhas do deus da guerra. Você percebe a maior importância para o que elas são, para como elas são. E aí é aquela coisa clássica: é um reino composto só de mulheres, e aí fica assim: ou é só de mulheres ou então os homens que têm ali algo mais servil, e aí elas acabavam indo até outros reinos, ou então, quando vinham estrangeiros, elas procriavam, transavam ali e aí, se nascia filha, virava uma amazona; se fosse filho, ou virava esse serviçal - os homens que trabalhavam lá - ou era castrado, ou os dois, seria castrado e viraria serviçal -, ou era expulso, abandonado ou morria. Ou seja, não se tornava alguém realmente do reino em si, porque ou ele era morto, abandonado, expulso, ou se tornava uma profissão que não faria diferença, não era visto como algo digno, digamos assim, era um serviçal.
Nilda: É, eu vejo muito nessa versão dos homens inferiores no reino das amazonas um certo... assim, você fala mal de reinos ou locais matriarcais, em que a rainha tem mais poder que o rei, em que o nascimento de uma filha é mais festejado que o nascimento de um filho, e várias sociedades têm isso, só que não necessariamente por isso você tem homens inferiores ou não. O que você tem são papéis sociais diferentes, e isso pode ter causado muita estranheza para o grego. Se você tem um papel social entre os gregos em que o guerreiro é o homem, o rei é o homem e tal, e você entra em contato com uma sociedade que não é assim, você começa a imaginar que é totalmente o contrário, que o homem não tem valor, e que talvez não seja isso, talvez sejam apenas valores diferentes, papéis sociais diferentes. Eu falo isso porque, por exemplo, entre os povos ameríndios, tanto do Brasil, mas principalmente na América do Norte, você tinha as tribos ancestrais, que eram várias tribos indígenas que já estavam começando a se unificar pouco antes da chegada do europeus,