Millennials: Educação Financeira e Armadilhas

13/09/2018 22 min
Millennials: Educação Financeira e Armadilhas

Ouvir "Millennials: Educação Financeira e Armadilhas"

Sinopse do Episódio

A Economia Clássica sempre teve como pressuposto que os seres humanos são 100% racionais na hora de tomar decisões. No entanto, a prática mostra que não é bem assim. Ninguém é racional o tempo todo. Nesse sentido, surge uma nova linha de pensamento econômico: a Economia comportamental, que tem por objetivo romper com o pressuposto inicial, se aproximando mais da realidade.  O economista Richard Thaler, vencedor do prêmio Nobel de economia no ano passado, tem uma pesquisa que vai justamente nesse sentido. Ele afirma que os jovens, a geração millennials, são mais propensos a cair em armadilhas financeiras. Na minha conversa com o Pedro Vieira, da Rádio Inconfidência, nós discutimos sobre as irracionalidades do comportamento humano. Falamos também sobre quais são essas armadilhas e como evitá-las. Abordamos ainda as carências da Educação Financeira ensinada nas escolas e a importância de formar (na escola, ou fora dela) cidadãos entendidos desse tema. Ao final responderemos à pergunta de duas ouvintes sobre o Tesouro Direto e títulos de capitalização. Somos seres irracionais? Somos! Em se tratando de decisões econômicas, somos irracionaiso tempo todo. Até porque, se fôssemos 100% racionais, qual seria o sentido de tanto marketing e propaganda? Áreas que movimentam milhões hoje em dia, usando das emoções para incentivar o consumo. Nos cursos de Economia os modelos são baseados em racionalidade. Os seres humanos vão agir sempre buscando um ótimo, o caminho mais eficiente financeiramente, com a maximização (aumento) dos lucros e a redução dos custos. No entanto, não é assim que o ser humano funciona. Ele é enviesado e segue critérios muito mais sentimentais e psicológicos do que econômicos, na hora de tomar uma decisão. É isso que essa nova corrente, chamada Economia Comportamental, e seus expoentes Richard Thaler, Denário, Daniel Kahneman, entre outros, tentam trazer para dentro dos modelos econômicos. Esses grandes autores simplesmente reconheceram o que o senso comum  já mostrava há muito tempo. Ao fazer compras o ser humano não age financeiramente, e sim de acordo com o acúmulo de experiências e vontades.  Ele pode agir inclusive prejudicando as finanças. Nas várias áreas da economia, desde a macroeconomia, onde se programa a política econômica, até nas pequenas ações do dia a dia, é necessário promover o “bom comportamento”, ou seja, um comportamento mais racional. Nesse sentido, Richard Thaler sugere dar “empurrões”, incentivos que levem as pessoas a agir de maneira mais planejada, reflexiva e crítica. Quais são as armadilhas para os millennials? A impaciência e a propensão a consumir por impulso são principais ciladas para a geração Y. Os incentivos ao consumo impulsivo são inúmeros. Estão na televisão, no celular e meios de comunicação em geral, o tempo todo.  As pessoas estão sendo empurradas para consumir mais. Mas isso não é uma questão específica do jovem. Os millennials são mais propensos a cair em armadilhas que que lidem com impaciência. Para essa geração é muito difícil pensar no longo prazo. Planejar uma poupança para quando eles chegarem aos 40 ou 60 anos é uma realidade ainda muito abstrata. Esse tempo para eles está tão longe que dá a sensação de que nunca vai chegar. Então, se os millennials não conseguem trabalhar com essa dimensão temporal, não tomam decisões com esse horizonte de tempo. Assim, fica difícil, por exemplo, deixar de comprar um tênis novo, porque é preciso colocar R$50,00 do salário numa conta, para criar uma reserva financeira para a aposentadoria. Quase ninguém de vinte anos vai se sentir incentivado a tomar essa decisão. As pessoas dessa geração não se enxergam nessa situação. Quais “empurrões” podem ser dados para melhorar esse comportamento? Trabalhar com incentivos para diminuir essa impaciência e aumentar a visibilidade que o jovem tem do longo prazo é uma boa política para orientar melhor esse futuro. É preciso desconstruir a mentalidade de “viver como se não houvesse amanhã”. Os pais devem incentivar os filhos a se precaver e pensar no futuro. Estamos vivendo mais e com mais qualidade de vida, por isso temos que ter reservas financeiras bem consolidadas. Vale a pena dar mesada? Um pequeno orçamento pode ajudar os millennials a se relacionarem melhor com o dinheiro. No entanto é preciso ter alguns cuidados. Eu, particularmente, sou contra remunerar as crianças por nota na escola, por exemplo. Estudar não deve ter como fim último uma remuneração. Esta deve ser uma atitude que busque o crescimento pessoal e o desenvolvimento humano, desassociada de uma recompensa material. Além disso, é necessário ter em mente que o objetivo da mesada é a educação financeira. Não adianta combinar um pagamento mensal se a criança gastar tudo no primeiro dia e os pais continuarem dando dinheiro. Isso cria um comportamento contrário ao que se deseja. Se existe uma mesada que deve servir o lanche na escola, a figurinha e a bala e o filho gastou tudo na  primeira semana, acabou! A criança passará três semanas sem nada e terá que se organizar melhor no mês seguinte. Então, a mesada  como um pequeno orçamento para criança se responsabilizar pelo dinheiro ensina desde cedo desejos são infinitos, mas recursos são finitos, e é preciso administrá-los bem para alcançar os objetivos. Dessa maneira é possível ensinar aos jovens essa dimensão de que é preciso fazer escolhas, porque não se pode ter tudo. E a semanada? A semanada segue a mesma lógica da mesada. Ela se aplica bem para crianças mais novas, que muitas vezes têm dificuldade de projetar o mês. Então, ao em vez de dar uma mesada de R$100,00, dá-se uma semanada de R$25,00. A finalidade é a mesma. A educação financeira nas escolas A forma que se ensina hoje é a muito parecida com a de 30, 40 anos atrás. Infelizmente a didática não avançou, a estrutura escolar não foi modernizada e aconteceram poucas inovações no modelo de ensino. A precariedade da educação financeira é um reflexo disso. Aqui no Educando Seu Bolso nós temos essa missão de tentar entrar no ambiente escolar com a pauta da educação financeira. A  inclusão desse assunto na base nacional curricular foi um grande avanço. Mas infelizmente na prática isso não têm se traduzido em um acesso dos jovens à boa educação financeira. Ela ainda não vai muito além dos juros simples e compostos, incorporados em algum momento na grade de Matemática, sem deixar claro os porquês e para quês disso. Portanto, este acaba sendo mais um conteúdo esquecido assim que os jovens saem do Ensino Médio. Muito se fala em tecnologia, novos conceitos pedagógicos. Um exemplo bem  famoso é a “gamificação”, que tenta levar para dentro do ambiente de sala de aula um aprendizado mais dinâmico, por meio de jogos eletrônicos. No entanto, ainda existe o medo quando se trata de matemática. Este ainda é um assunto que assusta e acaba minando a curiosidade das crianças. Se elas tiram uma nota ruim ou duas já se distanciam da matemática, achando que aquilo não é para elas. Mas o fato é: não dá para fugir da matemática. Em algum momento da vida ela ta alcança de volta. Então o  melhor a fazer é manter em contato com a matéria o quanto antes. Uma alternativa para estreitar esses laços é tornar a matemática mais atrativa, dinâmica e aplicada, nas escolas. Consequentemente melhorando a educação financeira dos millennials, que poderão colher bons frutos no futuro. Filhos também ajudam na educação financeira dos pais Durante o programa na rádio a ouvinte Silvana relatou: “o meu filho tem 26 anos e lida com dinheiro melhor do que eu”. Falamos muito sobre como os pais ajudam os filhos a lidarem com finanças, mas vale sempre lembrar que a recíproca também é verdadeira. O comentário da Silvana chama a atenção para esse ponto. Ela com certeza se beneficia da aptidão que o filho tem no trato com as fianças para ficar a par de novidades. Assim ela pode tomar conhecimento da existência das fintechs, que surgiram para se adequar ao perfil dos millennials e que são alternativas fora dos grandes bancos. Ela provavelmente sabe também, através do filho, que se quiser fazer o dinheiro render um pouco mais de forma segura existem outras opções além da Poupança. A dica que fica para os filhos é: olhe para as finanças dos pais e se ofereça como uma fonte de renovação no trato das finanças. Parabéns para Silvana e para o filho pela parceria e pelo cuidado com o orçamento. Educação financeira na marra também está valendo Na sequência do programa a Rosângela comentou: “sou de família grande e de uma época que nunca tínhamos mesada. Mas conseguimos nos educar financeiramente, não todos os irmãos, mas a maioria sim. A educação veio mais na marra”. Estudos demonstram que o aprendizado na prática, sem mesada, funciona para muita gente. Esse ambiente de escassez é um ótimo professor para ensinar a controlar bem o dinheiro. É claro que existem exceções individuais, que se tornam mais gastadores, mas grande maioria incorpora isso no futuro, por ter vivido essa situação durante um bom tempo da vida. Parabéns também à Rosângela e obrigado pela participação! As perguntas da Mônica e da Isabel Ao final do da minha conversa com o Pedro a Mônica perguntou: “ainda é um bom negócio investir em títulos do Tesouro Nacional?” Sim! Existem diversas modalidades e níveis de liquidez que ainda são bastante vantajosos. Uma alternativa é procurar uma corretora de valores. Elas costumam ter taxas bem baixas para investir no Tesouro Direto. Aqui no blog nós fizemos um post que fala um pouco mais sobre isso e pode ser acessado pelo link: Tesouro Nacional: vender ou esperar o vencimento? Por fim a Isabel relatou que tinha um título de capitalização a menos de um ano. Porém atrasou três parcelas. Quando foi regularizar o banco informou que o título estava cancelado e que ela deveria aguardar o prazo de vencimento. Ela quer saber se ela perdeu tudo nesse título de capitalização. Provavelmente não. Estes são contratos que existem entre clientes, como a Isabel, e a seguradora que o gerente do banco representa. Esses contratos têm especificidades. Cada um deles pode ter um tipo de regra. Tomando por base o funcionamento normal de um título de capitalização, ela provavelmente terá direito a receber alguma quantia no final do prazo, mesmo sem ter pago tudo. A má notícia é que esse valor não será muito alto. Mesmo quando se cumpre tudo direitinho num contrato de um título de capitalização, ainda é pior do que investir na pior aplicação financeira possível. Conclusão O pensamento econômico vem  se modernizando e se aproximando cada vez mais da realidade, assim como as gerações também se atualizam. Os millennials demandaram uma reformulação dos bancos tradicionais e abriram mercado para o surgimento de fintechs, mais prático e com menos burocracias. No entanto ainda há muito o que melhorar quando se trata de educação financeira. Tornar o tema atrativo nas escolas e educar os jovens para que saibam evitar armadilhas e segurar os impulsos do consumo ainda é um desafio. Algumas alternativas como as mesadas e a gamificação podem ajudar na construção de um senso crítico. Melhorando assim a relação dos millennials com as finanças pessoais. Ouça o podcast e deixe também seu relato ou dúvida aqui para a gente, assim como a Silvana, a Rosângela, a Mônica e a Isabel.

Mais episódios do podcast Educando Seu Bolso