LUSOFONIAS - Em Tefé, Amazónia dentro

03/07/2023 4 min

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Sinopse do Episódio

Tony Neves

Levantei voo em Manaus rumo a Tefé, seguindo o Rio Solimões na direção da nascente, entrando no coração da Amazónia. Lá de cima, vê-se bem que é tempo de chuvas, pois as florestas estão alagadas e só se vê água e árvores. Aterrei no Tefé, uma cidade ribeirinha, com um calor abafado e difícil de suportar, a capital da castanha do Pará (como provam as estátuas), construída há 168 anos (como dizem os cartazes), junto ao lago com o mesmo nome, uma espécie de baía do grande Solimões.
Os primeiros três dias vivi-os no Bom Jesus, um dos bairros periféricos pobres da cidade, cuja paróquia foi fundada pelos Espiritanos e continua animada por eles. As casas são muito pobres, as ruas fracas, sempre a abarrotar de gente, motas, cães e, lá por cima, bandos de urubus (espécie de abutres) cuja missão - contou-me a gozar uma líder da comunidade – é assegurar a limpeza dos lixos no bairro! Segundo se percebe, são os funcionários mais eficazes e baratos da Prefeitura, pois trabalham de graça 24 sobre 24 horas! Tive direito a entrar em diversas casas onde sempre oferecem algo de típico para comer (como o ingá, tapioca de madioca…) ou de beber (sumo de camucamu). Mas passemos adiante: há sempre música no ar e as pessoas saúdam ao passar, dando aquele feliz ar de aldeia.
A área da Paróquia tem uma extensão que parece não acabar mais. Assim, primeiro de jeep, depois de mota, acompanhei o P. Emmanuel Chuwa, tanzaniano, nas visitas a algumas comunidades da floresta, para a celebração das Missas. Nesta estação das chuvas, o calor é fortíssimo e acho que o meu corpo mudou de água diversas vezes! Gostei muito da festa de S. João, na comunidade de Boa Vista. Nada de sardinhas, manjericos, marchas ou martelos! Mas havia foguetes (muito artesanais), um mastro que ostentava uma bandeira de São João e estava cheio de cocos, pacotes de batatas fritas, biscoitos ou rebuçados, que fizeram as delícias das muitas crianças quando, no fim da missa, foi deitado abaixo a golpes de machado. Também se acendeu a fogueira e se distribuiu comida e bebida pelo povo. Tive que provar o tacácá, uma espécie de sopa, muito quente e muito agressiva pelo picante que nos deixa a boca a arder e fumegar!

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